Fazer pausas durante os estudos ajuda na memorização

Copiar o conteúdo durante a aula, repetir por horas o mesmo assunto e ter um lugar fixo para estudar parece ser uma receita infalível para qualquer aluno. No entanto, estudos comandados por Robert Bjork, do departamento de Psicologia da University of California, Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, apontam para o lado contrário do que geralmente se pensa sobre o processo de aprendizagem e memorização.

De acordo com as pesquisas, fazer pausas durante as sessões de estudo ajuda na memorização do conteúdo em longo prazo e variar o local de aprendizado aumenta a possibilidade de recuperação de dados importantes. O pesquisador diz ainda que as informações são armazenadas na memória quando relacionadas com o que já sabemos e que recuperar memórias é um instrumento de estudo mais poderoso do que estudar um conteúdo novamente.

Diretor do Laboratório de Aprendizagem e Esquecimento (Learning and Forgetting Lab) da universidade, Bjork é especialista em armazenamento de novas informações e formas de retomá-las em nossa mente. No laboratório, são feitos testes sobre a capacidade de aprender e de memorizar no contexto educacional.

Nos anos 1990, Bjork introduziu os estudos sobre “dificuldades desejáveis” (desirable difficulties), no qual explorou, por meio da mudança nos locais e horários de estudo, a forma como armazenamos e lembramos informações. Seus estudos seguem até hoje e ainda surpreendem. Em entrevista exclusiva ao Terra, Bjork fala mais sobre nossa habilidade de guardar e lembrar memórias e sua relação com o aprendizado.

Terra – Quais são as melhores estratégias para aprender algo? O que os estudos recentes mostram sobre a melhor maneira de memorizar o que aprendemos?
Robert Bjork – É importante entender que não aprendemos somente quando nos expomos à informação que queremos saber. Novas informações são armazenadas em nossa memória quando as relacionamos com o que já sabemos. Isso requer que notemos essas relações e interpretemos ativamente o que tentamos aprender. Igualmente importante é praticar a recuperação da informação que desejamos lembrar. Quando geramos informações a partir de nossas memórias, tornamos a informação recuperada muito mais fácil de ser relembrada no futuro. O ato de recuperar é poderoso no aprendizado – consideravelmente mais poderoso do que estudar as informações novamente. Precisamos ser agentes ativos no processo de aprendizagem, não aparelhos gravadores passivos.

Terra – Como nossa memória trabalha para aprender novos dados?
Bjork – Pela associação desses dados com o que já sabemos. Nossa capacidade de armazenar informações em nossa memória é ilimitada, e aprender novas informações aumenta essa capacidade, em vez de ocupá-la por completo. Quanto mais sabemos sobre algum assunto, mais maneiras surgem de ligar a nova informação ao que já sabemos.

Terra – Como o lugar onde estudamos influencia no processo de aprendizagem? Por que seria melhor variar esse local?
Bjork – Enquanto nossas memórias são ilimitadas do ponto de vista do armazenamento, somos consideravelmente limitados do ponto de vista da recuperação de dados. Muitas das informações em nossas memórias não podem ser relembradas em circunstâncias normais. O que é possível ou não de ser lembrado em nossa memória depende das marcas do contexto ambiental, interpessoal, emocional ou físico daquele momento. Então, quando estímulos de algum teste ativam sinais que estavam presentes no tempo do estudo, nossa habilidade de relembrar a informação estudada é aumentada. Mesmo marcas restabelecidas pelo meio – ou seja, se imaginar de volta na situação do aprendizado – pode ajudar a relembrar. Quando algo é estudado duas vezes, parece que a habilidade de relembrá-lo é aumentada se a informação tiver sido estudada em lugares diferentes.

Terra – Por que isso acontece?
Bjork – O porquê disso não é entendido por completo. Mas variar a localização de um primeiro para um segundo ambiente, provavelmente, faz duas coisas: enriquece a codificação, levando o aluno a codificar a informação de alguma forma diferente durante a segunda sessão de estudo; e enriquece a recuperação, fornecendo dois contextos diferentes que podem ser mentalmente restituídos na hora da prova.

Terra – Normalmente, fazemos uma pausa quando trocamos de assunto durante os estudos. Isso melhora a capacidade de memorização?
Bjork – O que precisamos evitar é a “prática em massa”, que significa estudar a mesma informação repetidamente sem fazer uma pausa entre as sessões de estudo. Dar um tempo entre as sessões de estudo melhora a memorização em longo prazo, às vezes de forma substancial. Quando há múltiplas coisas a serem aprendidas, as horas de estudo dessas coisas devem ser intercaladas, não fechadas em blocos de assuntos.

Terra – Qual a melhor forma de fazer anotações durante as aulas?  
Bjork – Notas devem ser feitas somente de forma alternada e em comentários, em vez de maneira literal. A pior coisa que pode ser feita durante os estudos é entrar no modo taquígrafo de tribunal – isto é, tentar copiar tudo da maneira como foi dito. Isso reprime o aprendizado. Um taquígrafo pode gravar tudo que foi dito em um dia ou em um julgamento e depois, no final do dia, não ter nenhuma ideia de sobre o que era o caso.

Terra – É verdade que apagamos de nossa memória coisas que aprendemos há muito tempo?
Bjork – Não é verdade. Informações muito antigas permanecem em nossas memórias, mas se tornam inacessíveis e impossíveis de serem relembradas, a não ser que elas continuem sendo acessadas e usadas.

Fonte: Terra
Crédito da fotografia.


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