Não devemos nos iludir com as alegrias e nem sofrer com as tristezas

Por Danuza Leão

Se alguém perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um fracasso, o que você vai responder? Detalhe: se foi destaque da escola de samba na avenida e levantou a arquibancada, fique logo sabendo que não tem nada a ver. Aliás, dinheiro não tem nada a ver, ser deslumbrante também não, ter aparecido em várias capas de revista também não. Então, o que é ter tido uma vida de sucessos? Bem, depende. Todos nós já ouvimos da boca de uma mulher muito modesta a frase: “Criei meus filhos, estão todos encaminhados; posso me considerar muito feliz e realizada”. E quem nunca ouviu pessoas que aparentemente têm tudo – por “tudo” entenda-se família, saúde, dinheiro, amor, mesmo que não seja verdadeiro e não necessariamente nessa ordem – se queixando e tentando, inutilmente, entender o significado da vida?

Temos, quase todos, razões para achar que nossa vida foi gloriosa ou um vale de lágrimas. Você, por exemplo, já deve ter passado por ótimos e por péssimos momentos. Quais ficaram no seu coração? Os melhores ou os piores? Difícil avaliar. Às vezes, a gente se acha uma pessoa privilegiada; outras vezes, uma coitada, dependendo do que mais valoriza naquele momento – pois, conforme a hora, os valores também mudam. Ou será que você se considera uma pessoa coerente?

Houve um tempo em que seus sonhos se resumiam a passar a vida viajando pelo mundo em jatinhos, comprando tudo o que visse, num turbilhão que não deixasse tempo nem para pensar; isso, sim, seria a felicidade – só que não foi. Depois, tudo o que quis foi encontrar um bom marido, mesmo meio sem graça, que tivesse hora certa para chegar em casa, com um bando de crianças perturbando em volta, para não ter tempo de pensar se era feliz ou infeliz. Isso, sim, seria a felicidade – só que também não foi. Aí, achou que o importante seria a realização pessoal, independentemente de um homem. Também não foi, mas conseguiu o que parecia impossível: viver sem estar permanentemente apaixonada, ou melhor, sem inventar que estava apaixonada.

Hoje, se alguém perguntasse se sua vida foi – até agora – um sucesso ou um fracasso, você não seria capaz de responder. Foram tantos os bons momentos, e tão felizes, que prefere não lembrar. Quanto aos maus momentos, foram também tantos, e tão terríveis, que faz tudo para também não lembrar – e às vezes até consegue. Agora, já sabe: às vezes, você acorda feliz – sem nem saber por que –, sai de casa, na primeira esquina tropeça e fica no pior humor da vida. Já no dia seguinte, acorda péssima, o telefone toca, é alguém de quem você gosta, e a vida se torna, de repente, boa de ser vivida. É essa certeza de que tudo pode mudar em minutos, segundos, que nos ajuda a segurar a onda quando tudo fica difícil. Se as coisas estiverem indo mal, pense em quantas outras ocasiões elas estiveram tão mal quanto, ou até piores, e tudo passou. Não, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere; se possível, com aquela quase indiferença que você viu tantas vezes nos olhos dos mais velhos, que sabiam que ia passar – porque sempre passa. Essa indiferença pode ser chamada de sabedoria ou experiência, o que, no fundo, é mais ou menos a mesma coisa.

Fonte: Revista Cláudia


Deixe um comentário