Em um único dia, respiramos pelo menos 21,6 mil vezes. É um dos movimentos mais importantes do corpo humano, realizado, quase sempre, sem que prestemos a mínima atenção. Agora, respire mais fundo para acompanhar a explicação do fisiologista Walter Araújo Zin, da Universidade Federal do Rio de Janeiro: a cada minuto, quando inspiramos, 7,5 litros de ar, em média, entram pelas nossas narinas e penetram nos pulmões até chegar aos alvéolos, um emaranhado de pequenas bolsas que, esticado, teria o tamanho de uma quadra de tênis. Por eles, o oxigênio atinge a corrente sanguínea e, depois, as células, que fazem você existir.
A perfeição desse mecanismo é objeto de estudo das tradições chinesas e indianas há pelo menos 3 mil anos. Na medicina convencional, pesquisas vêm mostrando a ligação entre a fisiologia da respiração, a neurologia e o comportamento. Sabe-se, por exemplo, que tomar consciência da forma como você inspira e expira pode ser um tratamento coadjuvante poderoso para males como stress, depressão e mesmo a síndrome do pânico, que hoje atinge 3,5% da população mundial – sobretudo mulheres. “Os exercícios respiratórios não substituem a medicação, mas podem ser tão importantes quanto ela”, afirma o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, chefe do Laboratório de Pânico e Respiração da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Se respirar direito ajuda até em doenças graves, imagine o bem do que é capaz quando se trata de controlar aquele frio na barriga de uma reunião tensa de trabalho, por exemplo. E a prática pode começar com uma receita bastante simples: preste atenção no modo como você respira. Agora, procure observar como respiram os bebês. Eles têm o padrão mais “natural” de respiração, a diafragmática. Ela acontece no diafragma, músculo que separa o pulmão de outros órgãos no abdome. Uma inspiração correta deve fluir suavemente e de forma profunda por meio desse músculo. Uma expiração longa, na mesma medida, consegue liberar muitas tensões.
Conexão com as emoções
A médica Claudia Giuli, 54 anos, encontrou no ato de respirar corretamente um meio de aliviar os sintomas da depressão. “Passei por dez psiquiatras e tomei remédios por 20 anos, com efeitos colaterais terríveis. Sentia apatia e me isolei. Queria ter tido filhos, mas nunca me achei capaz”, desabafa. “Quando me dei conta de que havia esgotado as possibilidades da medicina alopática, encontrei a ioga.” Praticante há dois anos, Claudia lembra que teve dificuldade em aprender as técnicas de respiração, os pranayamas. “Hoje sou capaz de lembrar do movimento do ar entrando e saindo mesmo fora das aulas. Diminuí os remédios e me sinto mais disposta e tranquila”.
Para a psicóloga Márua Pacce, de São Paulo, professora de ioga há 37 anos, a respiração afeta as emoções e vice-versa. “Um simples susto pode fazer com que você respire rápida e superficialmente, enquanto um ritmo respiratório mais profundo é capaz de deixá-la mais centrada, com mais disposição e vitalidade. Durante a Primeira Guerra Mundial, um período de stress profundo, o próprio (Carl) Jung (psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica) praticava a arte da observação da respiração deitado na postura de relaxamento chamada shavasana”, afirma ela. Márua ensina três técnicas simples da ioga para fazer em casa. “Apenas observar o fluxo da respiração já aumenta a concentração. E uma mente concentrada favorece a realização das demandas de cada dia, minimizando o desgaste.”
Respiração diafragmática em shavasana
Deite confortavelmente sobre uma superfície firme, com os pés um pouco afastados e os braços ao longo do corpo, palma das mãos para cima. Deixe o ar entrar e sair com suavidade pelo nariz. Apoie uma das mãos sobre o peito, procurando deixá-la o mais imóvel possível, e descanse a outra mão abaixo das costelas, na região do baixo abdome. Imagine seu diafragma como uma bexiga, que infla na inspiração e esvazia na expiração.
Bramari
Sentada em uma cadeira, inspire pelas duas narinas. Ao expirar, solte os músculos da boca e tente reproduzir o zumbido de uma abelha. Os iogues acreditam que a técnica traz alegria ao praticante.
Nadi shodana
Sentada, ereta, coloque o dedo médio e o indicador da mão direita no ponto entre as sobrancelhas. Expire pelas duas narinas. Então, tampe a narina direita com o polegar e inspire apenas pela esquerda. Tampe a esquerda com o dedo anular e solte o ar pela direita. Agora inspire pela direita, tampe-a com o polegar e solte pela esquerda, completando um ciclo completo. Faça 12 ciclos. Esse pranayama restaura o equilíbrio em momentos de crise.
Fonte: Cristina Capuano – Revista Cláudia.
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